De manhã, como de hábito, desbloqueei o celular e me espantei com 16 notificações no e-mail. Não é um número comum ali entre os aplicativos por dois motivos: 1º) costumo limpar a caixa de entrada diariamente; 2º) nunca recebi tantas mensagens por lá ao mesmo tempo. Ainda com o cérebro em loading, abri e constatei que algo tinha saído do meu controle.
Pelo jeito, a pedra de rim era um diamante — não que eu achasse.
O texto que antecede esse é, oficialmente, minha magnum opus. Em pouco menos de dois meses escrevendo nesta plataforma, a publicação cujo subtítulo diz “odeio escrever, mas adoro ter escrito” ganhou vida própria e engarrafou meu e-mail com interações e respostas significativas. E detalhe: o fluxo não parou desde então. Enquanto escrevia, não passava pela minha cabeça que tantas pessoas fossem se identificar.
Para ser sincero, eu achei que seria cancelado pela forma meio pé na porta que cruzei as opiniões. Inclusive, falo dessa sensação mais adiante, antes destaco o motor de toda essa visibilidade: Bárbara Bom Angelo e o queridinho ‘Queria ser grande, mas desisti’. Tudo aqui, do nome ‘Não Que Você Precise’ à presença semanal, para quem não sabe, tem a ver com a Babi.
Minha ‘Pedra de rim’ veio a público dois dias antes do Carnaval e estava performando dentro da normalidade. Alguns comentários, curtidas, algo em torno das 60 visualizações e duas ou três novas inscrições.
Preferi publicar na quarta-feira (7) porque no sábado, quando geralmente sai novidade por aqui, boa parte dos leitores estariam na esbórnia macetando o apocalipse. Pelo andar do trio, dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Vejamos.
Na sexta-feira (9) a Babi soltou a publicação dela adicionando meu texto nos ‘links da semana’ com outras produções que, de alguma maneira, contribuíram com a experiência estética pessoal. Pronto, a partir daquele momento nascia uma estrela. Citações no Twitter (X), no Instagram, comentários, restacks pontuando e reforçando trechos, enfim: a mensagem da minha escrita foi o hit do Carnaval. Modesto.
“Oh, why you so obsessed with me? Boy, I wanna know”, pensei, entendendo um pouco a Mariah Carey.
A Gaía Passarelli curtiu e linkou o bendito texto na última newsletter intitulada ‘Tá Todo Mundo Tentando: escrever (3).’ E eu estou tentando ser humilde.
Só para amarrar essa parte, Bárbara e eu nos conhecemos na sala de imprensa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em novembro do ano passado. Ela estava acompanhada da também jornalista Natalia Albertoni. Juntos, passamos um tempo analisando e comentando a edição da festa marcada por apagão, chuva e calor. Foi nessa oportunidade que ouvi falar do Substack. Logo depois descobri que a cabeça por trás do ‘Queria ser grande, mas desisti’ tem vários leitores e é super querida no meio literário.
Em momento algum achei que a publicação ganharia essa atenção toda. Escrevi meio sem roteirizar ou visualizá-la na mente. No bloco de notas onde anoto ideias e ganchos, o ‘Pedra de rim’ nem passou por lá. Por aqui, naqueles dias, muitas publicações tratavam sobre a escrita numa perspectiva romantizada e eu não sentia identificação com certas frases quase inócuas.
E tudo bem a produção textual ser um porto seguro para as pessoas. Alguém precisa escrever para que possamos ler. Não falei de escrita melhor ou pior, mas de diferentes estilos.
Por ser um jogo de frases meio desaforado, imaginei que este mundinho laranja soltaria minha mão já no segundo parágrafo, quando disse que todos nós conseguimos elaborar nossos traumas e conquistas sem escrever uma vírgula. Olha quem está agora elaborando textualmente uma conquista.
Marilene Felinto e eu temos algo em comum e não é só a sinceridade levemente rancorosa.
Ou seja, negamos a importância da escrita por meio da própria escrita. São essas vulgaridades, não no sentido sexual, mas no sentido de autenticidade, de crueza e desprendimento que me motivaram a fazer aquela defesa em ‘Pedra de rim’. Não é possível que o ato de escrever faça todo esse bem. Penso que o leitor também precisa se sentir um pouco desconfortável.
Graciliano Ramos ajudou na primeira vez, talvez Heiddeger explique melhor agora. E nem é piada. “Dou uma pequena pista para quem quer escutar: não se trata de ouvir uma série de frases que enumeram algo; o que importa é acompanhar a marcha de um mostrar.”
Imagina ser cancelado sem nem ter começado direito? A semana passou, a folia acabou, mas constantemente me vinha à cabeça o tema deste texto lido por você. “O que vou escrever depois do estrelato?”; “vão perceber que sou uma fraude literária”; “e se usarem o meme da Tulla Luana dizendo ‘decaiu, hein’?
Nesse momento, eu já estava mais distante da Mariah Carey e mais próximo da Tetê Espíndola. Alcançamos o número #1 das paradas, mas e depois? O que dizia o texto escrito nas estrelas? O que é bom para o moral, dona Rita Cadillac? As pessoas esperam um sucesso parecido após o sucesso anterior, não é verdade? Querem sentir o frisson de antes, a mesma afetação.
Talvez a Babi tenha sido minha Márcia Fu.
Pensando bem, como um texto chamado ‘Pedra de rim’ poderia aumentar tanto minha autoestima, mudar minha percepção sobre essa coisa difícil que é escrever e mais: como ele conseguiu, com um título ruim desse, cair nas graças do leitor?
Não poderia seguir adiante com outros temas sem compartilhar esses bastidores, do mesmo jeito não seria bacana me afastar do humor e dos exageros. Vamos fazer um trato: você continua lendo meus escritos e eu tento entregar outros sucessos. Acho justo.
Sendo assim, termino o texto nos mesmos moldes do primeiro, mas dessa vez trazendo uma síntese defendida pela Noemi Jaffe no podcast Ilustríssima Conversa deste sábado (17).
“O escritor nunca está pronto (...) Acho que a arte precisa contrair, sei lá, deixar a pessoa mais incomodada, deixar a pessoa perturbada. Literatura precisa perturbar o leitor.”
Matheus <3
Obrigada pela generosidade em tudo que escreveu sobre mim e sobre a newsletter ;)
boninho, corre aqui! surgiu um fortíssimo candidato ao camarote do bbb 25.